As PME (pequenas e médias empresas) deparam-se com um panorama cada vez mais intrincado de transformação digital e cibersegurança. Com recursos limitados no domínio da inovação e uma crescente onde de ameaças cibernéticas, a navegação neste ambiente torna-se um desafio vital, exigindo uma abordagem estratégica e cuidadosa para garantir a segurança e a competitividade das PME.
Os Desafios da Transformação Digital
As pequenas e médias empresas confrontam-se com um panorama de desafios complexos quando se trata da sua transformação digital. O primeiro desafio é, sem dúvida, o facto de, por definição, terem um orçamento limitado destinado a áreas como inovação e cibersegurança. O segundo desafio, mais intricado, é uma questão cultural e de mentalidade. Vários estudos, artigos de opinião e declarações de especialistas realçam que muitas empresas ainda consideram ser demasiado pequenas para serem alvo de ciberataques ou que ainda não necessitam de adotar novas tecnologias para acompanhar empresas de maior dimensão.
Pesquisas contradizem essa ideia: 61% das PME sofreram pelo menos um ataque cibernético, segundo um estudo da Verizon de 2023. De acordo com uma pesquisa da Deloitte, 75% das PME portuguesas relataram pelo menos uma barreira interna ou externa relacionada com a adoção de tecnologia. Além disso, 51% das PME apontam a falta de competências digitais como uma grande barreira à transformação digital, sublinhando a necessidade de formação em literacia digital, segundo a Accenture.
No entanto, para as PME que embarcaram no longo processo de transformação digital, surgiram diversas oportunidades únicas que tiveram um impacto significativo na empresa, especialmente na melhoria da experiência do cliente. A utilização de ferramentas digitais aliada a um foco na experiência do cliente pode resultar num aumento de 20 a 30% na satisfação do cliente e em ganhos económicos de 20 a 50%, de acordo com a McKinsey, o que é crucial para as PME que procuram diferenciar-se e competir através da adoção de novas tecnologias e processos.
Oportunidades Emergentes da transformação digital
Outra oportunidade da transformação digital reside na expansão do mercado, as plataformas digitais permitiram às PME aceder a novos mercados, com as empresas digitais a aumentarem as receitas até quatro vezes mais rapidamente do que as empresas não digitais, de acordo com a Deloitte.
No que diz respeito à eficiência operacional e segurança, segundo a Market Research Future, a inteligência artificial (IA) e a automação têm simplificado consideravelmente as operações, automatizando tarefas diárias e reforçando a segurança cibernética. O mercado de IA como serviço prevê atingir 43,29 mil milhões de dólares até 2030, impulsionado pela crescente procura das pequenas e médias empresas e de clientes corporativos. Esta tendência reflete a importância crescente da inteligência artificial na otimização de processos e na melhoria da segurança cibernética, demonstrando como a tecnologia pode transformar a eficiência operacional das organizações. médias empresas e clientes corporativos.
A Comodidade Supera a Segurança
A cibersegurança é uma questão particularmente delicada para as pequenas e médias empresas (PME). O décimo relatório anual State of the Phish 2024: Europa e Médio Oriente, da Proofpoint, representada em exclusivo pela Exclusive Networks em Portugal, revela que 71% dos funcionários das PME admitiram adotar comportamentos e ações arriscadas, tais como partilhar palavras-passe, clicar em ligações desconhecidas ou fornecer credenciais a uma fonte não segura. No entanto, o dado mais alarmante é que 96% desses colaboradores realizaram tais ações conscientes dos riscos envolvidos.
A maioria dos utilizadores na Europa e no Médio Oriente não tem clareza sobre se a responsabilidade pela segurança recai sobre eles próprios ou sobre outra entidade. Esta falta de clareza pode ter consequências desastrosas, afetando gravemente a integridade das empresas. Os dados revelam correlações significativas entre atitudes negligentes e resultados negativos em toda a região. Mais importante ainda, o estudo evidencia que, quando os utilizadores têm de optar diariamente entre segurança e conveniência, na maioria das vezes, escolhem a comodidade, o que aumenta exponencialmente os riscos de ciberataques.
Estes comportamentos imprudentes, apesar de conscientes, refletem uma cultura empresarial onde a segurança ainda não é priorizada como deveria ser. Tal realidade sublinha a necessidade urgente de programas de formação e sensibilização contínuos, que capacitem os colaboradores para identificar e evitar ameaças cibernéticas.
Além disso, revela a importância de políticas de segurança mais robustas e de uma vigilância constante para mitigar riscos. A adoção de práticas seguras deve ser incentivada e integrada na rotina diária de todas as empresas, particularmente nas PME, que muitas vezes não dispõem dos recursos necessários para enfrentar as consequências de um ciberataque de grande escala.
A Evolução dos Ataques
O baixo nível de maturidade em termos de TI geralmente traduz-se num nível ainda menor de maturidade em termos de cibersegurança, revelou ao Negócios Ricardo Oliveira, CSO da Eurotux. Observa-se muitas apostas em soluções ad hoc e de curto prazo em detrimento da definição de uma estratégia alinhada com as melhores práticas e referências, com o reforço sustentado e gradual da cibersegurança.
Para Ricardo Neves, marketing manager da ESET Portugal, o futuro da cibersegurança para as pequenas e médias empresas nos próximos anos será marcado por uma série de grandes desafios. As PME e as empresas em geral enfrentarão uma atividade mais intensa e agressiva por parte dos atores ligados ao ransomware, com redes de afiliados maiores e mais profissionalizadas. Além disso, a IA também acelerará a evolução das técnicas e dos ataques, por exemplo, ao nível de campanhas de phishing e engenharia social que certamente serão aprimoradas e automatizadas.
As credenciais comprometidas e as vulnerabilidades exploradas são dois dos principais vetores de ataque, pelo que garantir a proteção de ambos pode contribuir significativamente para enfrentar e deter ataques – uma medida válida para todas as organizações, mas especialmente para as PME.
A monitorização contínua para deteção precoce de ameaças conduz a melhores resultados. Muitas empresas mais pequenas não conseguem fazer isso, portanto, devem procurar Fornecedores de Serviços Geridos (MSP) e adotar serviços para preencher esta lacuna.
Ao recorrer a este tipo de recursos especializados partilhados, é possível obter acesso a conhecimentos especializados muito procurados e, ao mesmo tempo, poupar dinheiro.
O diretor de Segurança da Claranet Portugal, David Grave, assinala que a crescente digitalização das organizações é uma realidade global que coloca desafios específicos às PME portuguesas, para quem é essencial o investimento em soluções de segurança robustas e que promovam uma cultura organizacional de sensibilização e prevenção. No seu entender, a mitigação de riscos e a proteção de ativos críticos começa nas pessoas, e o compromisso com a cibersegurança é um pilar estratégico do futuro de qualquer negócio, especialmente relevante para a resiliência de pequenas e médias empresas.
Um Desafio Chamado RGPD
Rui Duro, country manager da Check Point Software Technologies em Portugal, prevê que as PME enfrentarão uma jornada desafiante, mas repleta de oportunidades. Um dos principais desafios antecipados é o aumento da sofisticação das ameaças cibernéticas.
Com hackers a tornarem-se mais habilidosos e persistentes, desenvolvendo novas técnicas de ataque para contornar as defesas tradicionais, é essencial que as PME se mantenham constantemente atualizadas e adotem abordagens proativas para proteger os seus sistemas e dados contra ameaças emergentes.
Além disso, Rui Duro destaca também os desafios regulatórios que as PME têm de enfrentar, como a introdução de regulamentações como o RGPD (Regulamento Geral de Proteção de Dados) na Europa, as empresas estão sujeitas a penalidades severas em caso de violação de dados. Isto coloca uma pressão adicional sobre as PME para garantir a segurança e a privacidade dos dados dos clientes.
No entanto, Rui Duro também vê oportunidades no horizonte. À medida que a consciencialização sobre os riscos cibernéticos continua a crescer, mais empresas estarão dispostas a investir em soluções de segurança cibernética robustas. Esta crescente consciencialização cria um mercado em expansão para empresas que oferecem soluções de segurança avançadas e serviços especializados.