Portugal tem vindo a consolidar-se como um dos países mais proeminentes no apoio ao financiamento de startups tecnológicas no contexto europeu, este reconhecimento deve-se ao contributo de vários investidores de destaque, como a Portugal Ventures, a Armilar Venture Partners e a Indico Capital Partners, que têm desempenhado um papel central no fortalecimento do ecossistema de inovação nacional.
De acordo com um estudo abrangente realizado pela Organização Europeia de Patentes (OEP), que analisou detalhadamente as transações e os fluxos de financiamento direcionados a startups tecnológicas ao longo de um período significativo, entre os anos 2000 e 2023, Portugal conseguiu assegurar um lugar de destaque no panorama europeu, este desempenho reflete o compromisso do país em fomentar iniciativas de base tecnológica e em promover um ambiente favorável à criação e crescimento de empresas inovadoras, contribuindo para o desenvolvimento de soluções que têm impacto não só a nível local, mas também global.
Crescimento de Investimento Startup no setor Tecnológico
Entre os anos 2000 e 2023, Portugal destacou-se no investimento startup no setor tecnológico, registando um total de 1.450 transações e acumulando 3,6 milhões de euros em investimentos direcionados a este segmento inovador. Este desempenho notável coloca o país de forma sólida no top 20 dos maiores investidores europeus em startups tecnológicas, evidenciando um progresso constante e uma crescente relevância no mercado internacional de inovação.
Este crescimento é, em grande parte, resultado da implementação de programas públicos cuidadosamente estruturados, que criaram um ambiente favorável ao desenvolvimento de startups, bem como da intervenção de investidores privados especializados, que desempenham um papel crucial em impulsionar a competitividade de Portugal neste setor.
No entanto, para uma análise mais abrangente, é importante considerar o contexto europeu, embora o volume de investimento em startups em Portugal seja significativo, ele ainda está aquém dos valores registados nos Estados Unidos. Esta discrepância reflete-se na quantidade de capital disponível e na capacidade de apoiar startups em fases mais avançadas de crescimento. No cenário europeu, países como o Reino Unido, França e Alemanha continuam a liderar tanto em termos de número de transações quanto em montantes totais investidos, consolidando-se como os principais centros de inovação e financiamento no continente.
O Papel das Startups na Inovação
António Campinos, presidente da Organização Europeia de Patentes (OEP), realçou num comunicado dirigido à imprensa o papel determinante das startups na conversão de ideias disruptivas em soluções práticas, com capacidade para impulsionar o progresso económico e social. As startups, segundo o presidente da OEP, representam um motor essencial de inovação, ao transformar conceitos inovadores em produtos e serviços que respondem a desafios concretos, contribuindo para o avanço de diversos setores.
Contudo, o relatório apresentado pela OEP sublinha que muitas destas empresas enfrentam barreiras financeiras significativas, que dificultam o seu crescimento e a possibilidade de alcançar escalabilidade no mercado europeu. A escassez de financiamento adequado limita a capacidade destas startups para desenvolverem o seu potencial pleno, atrasando o processo de expansão e impedindo a concretização de iniciativas que poderiam ter um impacto transformador.
De acordo com Campinos, este défice de investimento leva, com frequência, empreendedores promissores a procurar oportunidades fora da Europa, onde encontram melhores condições de financiamento e apoio. Esta migração de talento e inovação para outros mercados expõe uma vulnerabilidade que requer uma resposta urgente, destacando a importância de colmatar esta lacuna. O reforço das estruturas financeiras destinadas ao apoio das startups é, portanto, crucial para garantir que a Europa não só mantém a sua competitividade global, mas também fomenta um crescimento económico sustentável, capaz de beneficiar as gerações futuras.
Nova Métrica para Avaliação de Investidores
O relatório recentemente apresentado introduziu uma nova métrica chamada Technology Investor Score (TIS), que tem como objetivo avaliar a proporção de empresas que possuem patentes dentro das carteiras de investimentos dos investidores. Esta ferramenta permite medir, de forma mais precisa, o grau de envolvimento dos investidores com startups que apostam em soluções tecnológicas inovadoras e protegidas por patentes. De acordo com os dados revelados, 88% dos investidores europeus possuem carteiras que incluem empresas detentoras de patentes, o que reflete um interesse significativo e crescente no apoio a projetos que valorizam a inovação tecnológica.
Adicionalmente, 8% dos investidores têm mais de metade das suas carteiras compostas por empresas que possuem patentes, o que demonstra um nível de compromisso ainda mais forte com este tipo de startups. Este dado é particularmente relevante, pois evidencia uma preferência dos investidores europeus por apoiar empresas que não apenas desenvolvem novas ideias, mas também protegem essas ideias através de patentes, aumentando assim o seu potencial de valor a longo prazo. A introdução do TIS, portanto, não só oferece uma visão mais detalhada sobre os padrões de investimento no setor tecnológico, como também sublinha a importância crescente das patentes como um indicador de inovação e de sucesso futuro para as startups.
Perfil dos Investidores e Comparação Internacional
Os dados apresentados no relatório também revelam que os 100 principais investidores privados na Europa estão, maioritariamente, focados no financiamento de startups nas fases iniciais de desenvolvimento. Estes investidores representam 62% do total de investimentos realizados, o que indica uma forte preferência por apoiar empresas em estágios iniciais, quando as ideias estão a ser concretizadas e os riscos são mais elevados. Em contraste, apenas 22% dos investidores se especializam em financiar startups nas fases finais, quando estas já estão a tentar aumentar a sua escala e a comercializar as suas inovações.
Este padrão evidencia uma limitação significativa no capital disponível na Europa para apoiar startups tecnológicas durante o processo de escalabilidade, o que dificulta o crescimento das empresas e a sua capacidade de competir no mercado global. A falta de apoio financeiro nas fases mais avançadas reflete uma carência estrutural que pode comprometer o potencial de muitas empresas inovadoras em expandir-se e solidificar-se no mercado.
Nos Estados Unidos, a situação é substancialmente diferente. O relatório revela que 98 dos 100 maiores investidores privados na rede de co-investimento têm como principal foco empresas em fases avançadas de desenvolvimento. Este cenário demonstra uma abordagem mais madura do ecossistema norte-americano, que oferece um apoio robusto e contínuo à expansão de startups tecnológicas de alto impacto, já em fase de crescimento acelerado e com uma maior capacidade de gerar retorno financeiro. Este suporte nas fases finais é fundamental para a consolidação das empresas e para a maximização do seu impacto, refletindo uma diferença significativa nas estratégias de financiamento entre a Europa e os Estados Unidos.
Portugal: Principais Investidores no Cenário Tecnológico
Em Portugal, um conjunto significativo de investidores, incluindo a Portugal Ventures, o EIC, a EIT Health, a Caixa Capital, a Startup Braga, a Armilar Venture Partners, a Shilling VC, a ESA, o BIC Portugal, o Eurostars SME Programme e a Indico Capital Partners, representa aproximadamente 40% do total de investimento realizado em startups tecnológicas no país. Estes investidores têm desempenhado um papel fundamental no fortalecimento do ecossistema de inovação tecnológica, proporcionando não só capital essencial, mas também o apoio estratégico necessário para o desenvolvimento de novas ideias e a sua transformação em soluções reais.
O impacto destas entidades vai além do simples financiamento, pois são também impulsionadoras de uma rede de suporte que tem permitido às startups portuguesas crescerem e se posicionarem de forma competitiva no mercado global.
Este envolvimento tem sido crucial para colocar Portugal como um dos principais líderes regionais, destacando-se na atração de investimento e no desenvolvimento de novos projetos de inovação tecnológica.
Graças ao trabalho destas entidades, o país tem conseguido criar um ambiente propício ao surgimento de novas ideias e ao seu rápido desenvolvimento, o que é essencial para a construção de uma economia mais dinâmica e tecnologicamente avançada.
O relatório, que foi tornado público a 16 de janeiro, sublinha a relevância estratégica de Portugal no contexto europeu das startups, destacando o impacto positivo que o país tem alcançado no apoio ao desenvolvimento de empresas tecnológicas. Ao mesmo tempo, o relatório reconhece que, apesar dos progressos, ainda existem desafios consideráveis a serem superados para que a Europa consiga consolidar-se como um verdadeiro centro global de inovação.
A necessidade de superar obstáculos como a limitação de financiamento em fases mais avançadas de desenvolvimento e a falta de políticas coordenadas em todo o continente são alguns dos pontos destacados no documento, que visam direcionar os esforços para uma maior competitividade global.
Conclusão
Portugal tem vindo a consolidar-se como um polo de inovação tecnológica na Europa, demonstrando um crescimento significativo no financiamento e apoio a startups tecnológicas. O país tem beneficiado do compromisso de investidores públicos e privados que têm sido fundamentais para o desenvolvimento de um ecossistema robusto, posicionando Portugal entre os principais investidores europeus neste sector. Contudo, o panorama europeu ainda enfrenta desafios, especialmente no que diz respeito ao financiamento em fases mais avançadas de desenvolvimento, o que pode comprometer a escalabilidade das startups.
Apesar dos progressos, é claro que a Europa, e Portugal em particular, têm de continuar a trabalhar na criação de um ambiente que facilite o financiamento contínuo e o apoio a empresas inovadoras, desde as fases iniciais até à sua expansão global. A melhoria das políticas de financiamento, a criação de redes de suporte mais robustas e a eliminação das barreiras financeiras serão essenciais para garantir que a Europa consiga manter-se competitiva e consolidar-se como um verdadeiro centro global de inovação tecnológica. O investimento em inovação é, assim, um fator crítico para o crescimento económico sustentável e para a construção de uma economia cada vez mais tecnológica e globalmente competitiva.