Um homem com barba, usando um capacete e óculos de proteção transparentes, examina atentamente uma complexa gama de máquinas com luzes azuis e laranja brilhantes. Vestido com uma jaqueta de trabalho, ele personifica o futuro da Industria 5.0 em um ambiente industrial ou de alta tecnologia inovador. - Efacont

Portugal está a fazer esforços significativos para acompanhar a transição Indústria 5.0, adaptando-se a um novo paradigma tecnológico que integra de forma mais colaborativa as máquinas e os seres humanos.

No entanto, o país ainda enfrenta vários desafios que dificultam o progresso nesta área. Um dos principais obstáculos é a necessidade de um maior investimento em tecnologias avançadas, que exige um forte compromisso financeiro tanto por parte do setor público quanto do privado.

Para além disso, a qualificação da força de trabalho tem-se revelado uma questão central, pois há uma carência de profissionais devidamente preparados para lidar com as novas tecnologias que caracterizam este novo modelo industrial. A formação e adaptação das competências são essenciais para garantir que os trabalhadores possam tirar pleno partido das oportunidades oferecidas pela Indústria 5.0.

Transição Industria 5.0 o que é?

A Indústria 5.0 representa a próxima fase da evolução industrial, focando-se na integração entre humanos e máquinas de forma colaborativa e personalizada. Ao contrário da Indústria 4.0, que se concentra na automação e na digitalização, a Indústria 5.0 visa humanizar os processos produtivos, colocando a inteligência humana e a criatividade no centro das operações.

Através da utilização de tecnologias avançadas, como robótica colaborativa, inteligência artificial, IoT (Internet das Coisas) e realidade aumentada, as empresas podem criar produtos e serviços mais personalizados, ao mesmo tempo em que mantêm o equilíbrio entre a inovação tecnológica e o bem-estar dos trabalhadores. Este modelo busca não apenas aumentar a eficiência, mas também promover um ambiente mais sustentável e inclusivo.

A transição para a Indústria 5.0 e os seus desafios

Em 2024, a Comissão Europeia adotou oficialmente a nova versão da revolução industrial. Um relatório da Direção-Geral de Investigação e Inovação apresentou o conceito de Indústria 5.0, apontando-o como um marco na redefinição do futuro da produção. Se a Indústria 4.0 foi caracterizada pela automação e digitalização, a Indústria 5.0 propõe uma nova abordagem: a integração do ser humano como elemento central. A sustentabilidade, resiliência e uma visão mais humanizada são agora os pilares desta transformação, criando um modelo produtivo que combina tecnologia de ponta com o bem-estar social e ambiental.

Barreiras e progresso na UE

O “Roteiro das Tecnologias Industriais da União Europeia”, que orienta a investigação e inovação centrada no ser humano para o setor transformador, identifica algumas barreiras para alcançar a visão da Indústria 5.0. A principal delas é a lenta adoção de tecnologias avançadas no setor manufatureiro da União Europeia, devido ao elevado custo e à complexidade de desenvolvimento e integração de novos sistemas. Em países como Itália e Alemanha, startups estão a destacar-se, especialmente no desenvolvimento de tecnologias como robótica. No entanto, a Europa ainda se encontra a atrás de outros players globais nesse domínio.

Inovação e a qualificação da força de trabalho

Rafael Campos Pereira, Vice-Presidente da AIMMAP, destaca que a inovação tecnológica exige novas competências, particularmente em áreas profissionais que oferecem melhores perspetivas de carreira. Ele reforça que, para este avanço, o INESC TEC tem desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento de soluções práticas, como no iiLab – Industry and Innovation Lab, onde se estão a desenvolver projetos que integram robótica colaborativa, realidade aumentada e inteligência artificial, numa interação homem-máquina. Por exemplo, um projeto inovador utiliza um sistema de realidade aumentada para projetar diretamente sobre a bancada de trabalho as instruções para o operador, melhorando a execução de tarefas complexas e a eficiência do processo produtivo.

Combater a escassez de mão de obra

A escassez de mão de obra para funções repetitivas e fisicamente exigentes é outro desafio importante, que também está a ser abordado através de soluções tecnológicas. Um exemplo disso é o desenvolvimento de robôs autónomos móveis (AMR) para operações logísticas, como o transporte de mercadorias. Muitas empresas enfrentam dificuldades em recrutar operadores de empilhadores, funções que exigem grande esforço físico e frequentemente envolvem turnos noturnos. A solução, desenvolvida pelo INESC TEC, passa pela utilização de veículos autónomos que podem operar 24 horas por dia, sete dias por semana, com a possibilidade de serem controlados remotamente em caso de necessidade.

A aplicação de inteligência artificial na inspeção de qualidade

A utilização de tecnologias emergentes, como a inteligência artificial, está a permitir avanços notáveis na inspeção de qualidade. Um dos projetos em desenvolvimento explora o uso de óculos de realidade aumentada integrados com modelos de aprendizagem profunda, ajudando os operadores a identificar defeitos em tempo real e permitindo a detecção em áreas de difícil acesso.

O impacto do metaverso na indústria

Luís Bastos, responsável pela Digital Industries da Siemens Portugal, afirma que a aposta da empresa no metaverso industrial pode ser a chave para a transição para a Indústria 5.0. O metaverso oferece um ambiente digital imersivo, onde as empresas podem criar protótipos, testar soluções em tempo real e modelar cenários antes de implementarem fisicamente as suas soluções. Este tipo de abordagem pode otimizar os processos produtivos e permitir às empresas reagir de forma mais rápida e precisa às mudanças do mercado.

Inteligência artificial como motor da inovação

A Siemens também está a investir fortemente na Inteligência Artificial Industrial, que está a ser aplicada em sectores críticos como indústria, infraestruturas, mobilidade e saúde. A parceria entre a Siemens e a Microsoft resultou na criação do Siemens Industrial Copilot, um assistente digital baseado em IA que visa melhorar a colaboração entre o homem e a máquina, revolucionando a forma como as empresas desenvolvem, fabricam e operam os seus produtos e processos.

Plataformas digitais como aceleradoras da transformação

A Siemens lançou a Siemens Xcelerator, uma plataforma aberta e digital para acelerar a transformação digital das empresas, independentemente da sua dimensão. Luís Bastos destacou que esta plataforma já conta com cinco parceiros nacionais e é uma das soluções para enfrentar o desafio da adaptação das empresas à nova realidade digital. Além disso, a Siemens tem investido em espaços de inovação, como os dois i-Experience Centers X.0 em Portugal, que ajudam as empresas a modernizar os seus processos industriais e a promover a cocriação de novas soluções.

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A inovação no setor metalúrgico e metalomecânico

Rafael Campos Pereira sublinha que a inovação no setor metalúrgico e metalomecânico é uma prioridade estratégica. O setor tem vindo a investir fortemente em tecnologia e inovação, o que tem permitido às empresas do setor posicionar-se globalmente como fornecedores qualificados em cadeias de valor sofisticadas. A inovação está a ser aplicada em várias áreas, como no desenvolvimento de novos produtos e na otimização de processos produtivos, o que tem contribuído para aumentar a competitividade do setor.

Programas de apoio à inovação e a transição Indústria 5.0

António Grilo, Presidente da Agência Nacional de Inovação (ANI), destacou a importância dos programas de apoio à inovação para acelerar a adoção da Indústria 5.0. Estes programas incentivam modelos produtivos mais circulares, a utilização de tecnologias avançadas e a eficiência na utilização dos recursos, contribuindo para aumentar a competitividade das empresas. A ANI tem estado envolvida em vários projetos importantes, como os Testbeds e os Polos de Inovação Digital, que promovem a experimentação de soluções digitais e capacitam as empresas.

O financiamento europeu e os projetos de inovação

A nível europeu, Portugal tem beneficiado de financiamentos no âmbito do programa Horizonte Europa, que já disponibilizou mais de 1,4 mil milhões de euros para projetos industriais focados em sustentabilidade e digitalização. António Grilo destacou que Portugal captou cerca de 28,3 milhões de euros para 45 projetos, dos quais 33 empresas estão envolvidas, incluindo projetos como o XR5.0, que explora a realidade aumentada na Indústria 5.0.

Desafios na atração de talento e investimento

Rafael Rocha, Diretor-Geral da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), destaca que o principal desafio para as empresas portuguesas reside no investimento necessário para implementar a inovação. Para além do investimento, é fundamental que as empresas consigam atrair e reter talento qualificado para transformar a inovação em realidade. Rafael Rocha sublinha a importância de criar um ecossistema colaborativo que envolva clientes, fornecedores, universidades e startups, mas que, ainda assim, enfrenta obstáculos devido às diferenças culturais e estruturais entre o mundo empresarial e académico. Além disso, a dimensão das empresas portuguesas representa outro desafio, pois muitas não possuem os recursos necessários para a inovação.