Uma mulher com longos cabelos castanhos, vestindo uma camisa verde clara, está em um movimentado mercado ao ar livre repleto de frutas e vegetais coloridos. No meio do vibrante Setor Alimentar Português, ela olha para o seu smartphone. Outros frequentadores do mercado e vendedores são visíveis ao fundo, comprando e organizando produtos. - Efacont

O setor alimentar português apresentou um crescimento em 2023, impulsionado principalmente pelo impacto da inflação. Apesar da redução dos volumes, os consumidores optaram por produtos de maior qualidade, embora as vendas reais tenham diminuído novamente, situando-se abaixo dos níveis registados em 2019.

A elevada taxa de inflação teve um impacto direto nos preços dos produtos alimentares, o que levou a um aumento no valor total das vendas. Embora o crescimento em termos de valor tenha sido evidente, houve uma redução nos volumes de produtos vendidos. Isso indica que, apesar do maior investimento por parte dos consumidores, houve uma diminuição na quantidade de alimentos adquiridos.

Os consumidores, face ao aumento dos preços, optaram por investir em produtos de maior qualidade, evidenciando uma mudança nas suas preferências e comportamentos de compra. Apesar dessa preferência por artigos mais premium, as vendas reais do setor alimentar registaram uma nova diminuição.

Esta queda é ainda mais relevante quando comparada aos níveis de 2019, revelando que o volume total de produtos vendidos permanece abaixo do patamar observado antes da pandemia e do subsequente impacto inflacionário. Assim, o crescimento em valor não conseguiu compensar completamente a redução na quantidade de produtos comprados, sublinhando uma tendência de menor volume de consumo em meio a um aumento generalizado dos preços.

Análise do Relatório da McKinsey & Company e EuroCommerce

Ana Paula Guimarães, sócia da McKinsey & Company em Portugal, explicou que a inflação foi a tendência predominante em 2023 em toda a Europa, capturando a atenção do setor alimentar. Em resposta ao aumento dos preços, os consumidores ajustaram os seus gastos, tal como já tinham feito no ano anterior, resultando numa redução no volume e nas operações. No entanto, Portugal destacou-se ao registar um aumento de 0,4% na cesta de compras dos consumidores.

Ana Paula Guimarães, sócia da McKinsey & Company em Portugal, salientou que a inflação foi a força dominante no setor alimentar europeu ao longo de 2023. Este fenómeno económico teve um impacto substancial em todos os mercados da região, incluindo o mercado português. O aumento generalizado dos preços levou os consumidores a reavaliar e ajustar os seus padrões de gasto, um comportamento que já havia sido observado no ano anterior. Esta necessidade de ajuste resultou numa diminuição tanto no volume total de produtos adquiridos quanto nas operações gerais do setor alimentar.

Apesar dessa tendência geral de contenção de despesas e da redução no volume de compras, Portugal conseguiu distinguir-se positivamente. O país registou um crescimento de 0,4% na cesta de compras dos consumidores, o que indica um ligeiro aumento no valor gasto pelos consumidores portugueses, mesmo em um contexto inflacionário.

Este aumento é notável, especialmente quando comparado com outras regiões da Europa onde o impacto da inflação foi mais severo e os ajustes de consumo mais acentuados. Assim, Portugal demonstrou uma certa resiliência e uma capacidade de adaptação relativamente positiva, evidenciando um comportamento de consumo que favoreceu um leve incremento no valor das compras realizadas, apesar das condições económicas adversas.

Desempenho dos Supermercados no Setor Alimentar Português

O relatório detalha que os supermercados em Portugal desempenharam um papel crucial no aumento do valor do setor alimentar, sendo os principais responsáveis pelo crescimento observado. Estes estabelecimentos não só conseguiram ampliar o seu volume de negócios, como também ganharam quota de mercado significativa. Este crescimento reflete um aumento na procura por supermercados, que se destacaram ao oferecer uma variedade de produtos e uma experiência de compra que atraiu mais consumidores.

Por outro lado, o segmento online do mercado alimentar manteve um desempenho relativamente estável, sem grandes variações no volume de vendas. Este segmento, embora importante, não conseguiu contribuir de forma significativa para o crescimento do valor total do mercado alimentar.

Em contraste, os discounters, conhecidos por oferecer preços baixos e uma gama reduzida de produtos, não conseguiram acompanhar o ritmo de crescimento do mercado em geral. Estes estabelecimentos enfrentaram desafios para expandir a sua quota de mercado, resultando numa estagnação no seu crescimento.

No que diz respeito ao setor dos supermercados, o relatório destaca um crescimento notável de 9,5% em comparação com 2022. Este aumento representa uma recuperação significativa e uma conquista importante para os supermercados, que conseguiram melhorar a sua posição no mercado. O crescimento da quota de mercado dos supermercados foi acompanhado por um aumento de 0,8 pontos percentuais, evidenciando uma maior fatia do mercado em comparação com o ano anterior.

As vendas totais do setor de supermercados registaram um aumento de 8,2% em relação ao ano anterior. Este crescimento foi fortemente impulsionado por uma inflação elevada de 10,4%, que permitiu compensar a ligeira perda de volume de 2,4% observada no período.

No entanto, apesar deste aumento, as vendas reais sofreram uma redução de 2%, situando-se agora em 3,1%, o que representa um nível inferior ao registado em 2019. Esta diminuição nas vendas reais, apesar do crescimento em valor, indica que, embora os consumidores estejam a gastar mais, a quantidade de produtos adquiridos e o volume total de compras não retornaram aos níveis pré-pandemia.

setor alimentar português - efacont

Crescimento das Marcas Próprias e Perspetivas para 2024

O relatório também sublinha que a quota de mercado das marcas próprias registou um crescimento contínuo e significativo, com um aumento de 3,2 pontos percentuais em 2023, atingindo um total de 45,4%. Este crescimento reflete uma tendência crescente dos consumidores em preferirem marcas próprias em detrimento das marcas de fabricantes.

Este aumento na quota de mercado das marcas próprias pode ser atribuído a vários fatores, incluindo a crescente confiança dos consumidores na qualidade e no valor destas marcas em comparação com as marcas tradicionais. Além disso, a inflação elevada levou muitos consumidores a procurarem opções mais económicas, o que frequentemente resulta na escolha de marcas próprias que oferecem uma boa relação custo-benefício. O crescimento de 3,2 pontos percentuais demonstra uma mudança de comportamento significativa e indica uma preferência crescente por produtos de marcas próprias, refletindo uma adaptação dos consumidores às condições económicas atuais.

No contexto mais amplo europeu, o setor alimentar enfrentou um impacto substancial devido à inflação em 2023, com os consumidores a serem forçados a ajustar os seus padrões de compra.

Devido à inflação elevada, os consumidores reduziram os seus gastos gerais e passaram a optar por produtos mais económicos, o que afetou o crescimento do setor alimentar. A indústria alimentar cresceu 8,6% ao longo do ano, um crescimento que, embora positivo, ficou significativamente aquém da inflação alimentar, que atingiu 12,8%. Este desfasamento entre o crescimento da indústria e a inflação alimentar evidencia a pressão que os elevados preços dos alimentos exerceram sobre o mercado.

O crescimento da indústria não conseguiu acompanhar a subida dos preços, resultando em um ambiente de consumo mais cauteloso e em uma procura por produtos mais acessíveis. Esta discrepância ressalta os desafios que o setor alimentar enfrentou, incluindo a necessidade de ajustar as estratégias de preços e oferecer produtos que possam manter a competitividade e a atratividade para os consumidores em tempos de alta inflação.

Perspetivas Futuras e Prioridades Estratégicas

Para o ano de 2024, a McKinsey & Company antecipa uma mudança potencial no comportamento dos consumidores, prevendo que estes poderão diminuir a aquisição de produtos mais económicos e começar a investir novamente em itens de maior valor. Esta mudança de tendência é esperada para começar a refletir-se no mercado no segundo semestre do ano, com uma possível recuperação do volume total de produtos alimentares na Europa.

Se os consumidores regressarem a padrões de consumo mais elevados, o setor poderá experimentar um crescimento sustentado e significativo, refletindo uma recuperação económica e um aumento na confiança dos consumidores.

Daniel Läubli, Diretor Global de Retalho do Setor Alimentar da McKinsey, ressaltou que, apesar de o setor enfrentar desafios persistentes, há sinais encorajadores de que o sentimento do consumidor está a melhorar. Esta melhoria na confiança dos consumidores está a gerar novas oportunidades para os retalhistas, que poderão beneficiar de uma mudança nas preferências de compra. As principais prioridades estratégicas identificadas incluem o equilíbrio entre preços acessíveis e a oferta de produtos que adicionem valor, como opções alimentares saudáveis e alimentos prontos a comer.

Além disso, é crucial que os retalhistas se concentrem na redução de custos e no desenvolvimento do negócio de Retail Media, uma área emergente que utiliza plataformas digitais para promover e comercializar produtos de forma mais eficaz.

Estas estratégias visam não só a adaptação às novas tendências de consumo, mas também a maximização das oportunidades emergentes no mercado. Ao focar nestas áreas, os retalhistas poderão posicionar-se melhor para enfrentar os desafios futuros e aproveitar as tendências de crescimento, garantindo assim uma maior resiliência e sucesso no competitivo ambiente do setor alimentar.