sustentabilidade nas empresas portuguesas - efacont

Madalena Cascais Tomé, CEO do grupo SIBS, defende que a incorporação dos fatores Ambientais, Sociais e de Governança (ESG) diminui riscos, atende às exigências regulatórias e impulsiona os negócios. No entanto, reconhece que ainda há um percurso a percorrer, opinião partilhada por vários intervenientes na conferência de lançamento da plataforma SIBS ESG, que visa promover a sustentabilidade ambiental.

Transformação ESG como meta para sustentabilidade ambiental

Madalena Cascais Tomé, CEO do grupo SIBS, expressou a sua expectativa e confiança de que a nova plataforma SIBS ESG seja um catalisador para uma autêntica transformação no âmbito dos fatores ESG. A plataforma foi concebida para apoiar as empresas na comunicação dos seus desempenhos em sustentabilidade ambiental, de acordo com os requisitos da nova regulamentação europeia. Esta ferramenta visa facilitar o processo de reporte e garantir que as empresas cumpram as normas estabelecidas, contribuindo para uma gestão mais transparente e eficiente.

Durante a sessão de abertura da conferência de apresentação da plataforma, a CEO destacou que a integração de critérios ESG nas estratégias empresariais é crucial para reduzir riscos, atender às exigências regulamentares e estimular a inovação. Madalena Cascais Tomé enfatizou que, apesar dos benefícios evidentes, Portugal enfrenta obstáculos significativos na implementação destas práticas. Um dos principais desafios para alcançar a sustentabilidade ambiental reside na estrutura do tecido empresarial português, dominado por pequenas e médias empresas (PME).

A CEO explicou que a proporção de PME em Portugal é significativamente maior do que a média europeia, e que estas empresas tendem a ser de menor dimensão. Além disso, o foco destas empresas recai sobretudo em setores como o comércio e a indústria transformadora, enquanto, em muitos países europeus, prevalecem setores de tecnologia e serviços mais avançados.

Outro ponto de vulnerabilidade para Portugal, segundo Madalena Cascais Tomé, são as condições climáticas adversas e a considerável representatividade económica das regiões costeiras. As características climáticas do país, que incluem ondas de calor, incêndios florestais e secas, afetam negativamente setores essenciais da economia portuguesa que dependem do clima, como a agricultura, a pesca e o turismo. Estas condições criam um ambiente de maior risco e exigem uma abordagem mais robusta e adaptada para a implementação eficaz das práticas ESG, visando garantir a resiliência e a sustentabilidade do tecido empresarial português.

Plataforma SIBS ESG: uma ferramenta para o desenvolvimento sustentavel

Pedro Miranda, diretor-geral da SIBS Processos, apresentou a inovadora plataforma SIBS ESG, que promove o desenvolvimento sustentavel, destacando que esta é “completamente gratuita para as empresas”. Explicou que, numa fase inicial, o acesso à plataforma foi restrito a empresas convidadas, mas que agora está disponível para todas as empresas que desejem registar-se autonomamente, independentemente de possuírem ou não crédito bancário. Esta expansão de acesso visa democratizar o uso da plataforma, permitindo que um maior número de empresas possa beneficiar das suas funcionalidades.

Madalena Cascais Tomé, CEO do grupo SIBS, enfatizou a importância do SIBS ESG na simplificação e eficiência da gestão da sustentabilidade para as pequenas e médias empresas (PME). A plataforma permite que as PME possam gerir de forma mais eficaz os seus dados e desempenhos em sustentabilidade, proporcionando um acesso mais rápido e organizado à informação necessária para as instituições financeiras. Este acesso facilitado é crucial para que as PME possam cumprir com as exigências regulamentares e de mercado de forma mais eficiente.

O projeto SIBS ESG distingue-se pelo seu caráter colaborativo, reunindo uma ampla gama de parceiros, incluindo bancos, instituições públicas, como o IAPMEI e o Turismo de Portugal, associações e universidades. Este esforço conjunto visa criar um ecossistema integrado de informação, evitando que as empresas tenham de fornecer repetidamente os mesmos dados a diferentes entidades.

Assim, a plataforma não só reduz a duplicação de esforços por parte das empresas, como também assegura que a informação partilhada é consistente e acessível a todos os stakeholders envolvidos. Este modelo colaborativo é visto como uma forma de promover a transparência e a eficiência no reporte de sustentabilidade, facilitando a adoção de práticas ESG entre as PME e contribuindo para um mercado mais sustentável e competitivo.

A visão do Banco de Portugal sobre a alteração climática

Clara Raposo, vice-governadora do Banco de Portugal (BdP), sublinhou a urgência da crise climática, frisando que a alteração climática é uma realidade inegável. Salientou que, embora os riscos climáticos possam não parecer imediatamente financeiros ou de curto prazo, é crucial que não sejam subestimados ou negligenciados. Segundo Raposo, a transformação necessária para mitigar os efeitos das alterações climáticas deve ocorrer na economia real, com uma participação ativa do setor financeiro, que deve acompanhar e apoiar esta transição.

Ela destacou ainda que, apesar de os bancos centrais não estarem na linha da frente do combate direto às alterações climáticas, desempenham um papel essencial na construção de um ambiente financeiro robusto e resiliente, que possa suportar as mudanças necessárias. Os bancos centrais, embora não liderem esta luta, são vitais na criação das condições adequadas para uma transição eficaz e sustentável.

Quanto ao papel específico do sistema financeiro na transição para práticas ESG, Clara Raposo alertou para a necessidade de os bancos conhecerem profundamente as empresas que financiam. Este conhecimento detalhado é essencial para garantir que as decisões de financiamento sejam bem fundamentadas e coerentes. Raposo sublinhou que a análise das empresas deve ser consistente entre diferentes instituições bancárias, evitando discrepâncias que possam prejudicar a eficácia das políticas ESG Portugal.

As observações de Clara Raposo foram atentamente registadas pelos responsáveis bancários presentes na conferência, destacando a importância de uma abordagem integrada e uniforme na análise e financiamento das empresas, promovendo assim uma transição mais suave e eficaz para práticas empresariais sustentáveis.

O papel da banca na promoção dos objetivos de desenvolvimento sustentável

João Oliveira e Costa, CEO do banco BPI, sublinhou a significativa função desempenhada pelo setor bancário na prestação de serviços públicos cruciais, exemplificando com a resposta dada durante a pandemia e o período das moratórias.

Embora a banca tenha desempenhado um papel vital nesses momentos de crise, facilitando o acesso a crédito e ajudando a sustentar a economia, Oliveira e Costa lamentou que este contributo não tenha sido devidamente reconhecido pela sociedade.

No âmbito do painel de debate sobre a importância do setor financeiro como motor de desenvolvimento sustentável, moderado por Margarida Couto, sócia da Vieira de Almeida Sociedade de Advogados (VdA), João Oliveira e Costa enalteceu a capacidade agregadora do projeto da SIBS.

Destacou que esta iniciativa representa um marco importante na colaboração entre diferentes entidades do setor financeiro, promovendo uma abordagem coordenada e eficiente para a implementação de práticas ESG. Segundo ele, a união de esforços proporcionada pelo projeto SIBS ESG não só facilita a partilha de informações e recursos, como também potencia a inovação e a criação de soluções sustentáveis que beneficiem tanto as empresas como a sociedade em geral.

Oliveira e Costa enfatizou que a capacidade do setor bancário de agir como um catalisador para a transformação ESG é essencial para garantir que as empresas adotem práticas mais sustentáveis e responsáveis.

Através de iniciativas como a SIBS ESG, os bancos podem desempenhar um papel proativo na condução da transição para uma economia mais verde e sustentável, ajudando a mitigar os riscos associados às alterações climáticas e promovendo os objetivos de desenvolvimento de uma economia resiliente e inclusiva. Esta colaboração e coordenação entre diferentes atores do setor financeiro são vistas como fundamentais para o sucesso das políticas ESG, sublinhando a importância de uma visão conjunta e integrada para enfrentar os desafios globais atuais.

Desafios na concessão de crédito e relatórios de sustentabilidade empresas

A falta de informação adequada sobre sustentabilidade empresas e o impacto disso na concessão de crédito às empresas foi um dos temas centrais discutidos na conferência. José Miguel Pessanha, membro do conselho de administração do Millennium BCP, confirmou que a carência de dados precisos e completos pode afetar negativamente o pricing do crédito, ou seja, as condições e os custos associados ao financiamento.

Esta lacuna informativa pode levar a avaliações imprecisas e, consequentemente, a decisões de crédito menos favoráveis para as empresas. Por isso, Pessanha sublinhou a importância das as empresas fornecerem informações adequadas e atempadas sobre os seus desempenhos em sustentabilidade.

Luísa Soares, chief legal compliance e sustainability officer do Novo Banco, ressaltou que, embora atualmente as pequenas e médias empresas (PME) não sejam obrigadas a reportar informações de sustentabilidade, esta exigência acabará por ser inevitável devido à crescente pressão do mercado. Ela argumentou que, mesmo sem uma obrigatoriedade legal imediata, as PME devem preparar-se para esta realidade. Soares defendeu a criação de questionários acessíveis e user-friendly, que facilitem o processo de reporte para as empresas. Nesse contexto, destacou uma das principais vantagens da plataforma SIBS ESG, da possibilidade de as empresas fazerem um único reporte detalhado e esclarecedor, evitando redundâncias e simplificando o processo.

Licínio Lima, CEO do Crédito Agrícola, enfatizou a necessidade urgente de aumentar a literacia sobre critérios ESG entre as pequenas empresas. Ele sugeriu que é essencial proporcionar formação tanto aos funcionários dos bancos quanto às próprias empresas, de modo a garantir uma compreensão clara e eficaz dos requisitos e benefícios associados às práticas ESG. Esta formação deve ser abrangente e contínua para acompanhar as mudanças e atualizações nas regulamentações e nas melhores práticas.

Miguel Belo Carvalho, do Banco Santander, e Pedro Leitão, do Banco Montepio, concordaram que, embora as grandes empresas estejam geralmente mais bem preparadas para lidar com os requisitos de sustentabilidade, as PME devem rapidamente adaptar-se a esta tendência para evitar desvantagens competitivas. Ambas as entidades sublinharam que a falta de adaptação às novas exigências ESG pode resultar em dificuldades acrescidas no acesso a financiamento.

Miguel Namorado Rosa, da Caixa Geral de Depósitos (CGD), alertou para os potenciais riscos de injustiças e exclusão que podem surgir durante os processos de transformação para a sustentabilidade. Ele destacou a importância de comunicar claramente as oportunidades de negócio que estas transformações representam para os clientes, garantindo que todos entendam os benefícios de adotar práticas sustentáveis e como estas podem ser vantajosas a longo prazo para a competitividade e resiliência das empresas.

paínes solares uma estratégia de sustentabilidade ambiental

Sustentabilidade para empresas como oportunidade

Catarina Paiva, administradora do Turismo de Portugal (TdP), enfatizou os desafios significativos de sustentabilidade para empresas enfrentados pelo setor do turismo, destacando a sua vasta diversidade e a exposição a variações climáticas imprevisíveis. Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), realçou a crucial necessidade de associar a sustentabilidade à rentabilidade, evidenciando a importância de práticas sustentáveis não apenas como um imperativo ético, mas também como uma oportunidade para impulsionar a lucratividade dos negócios. Por outro lado, Ricardo Silva, representando a Skypro, reiterou a ideia de que a verdadeira sustentabilidade só pode ser alcançada se houver uma base sólida de lucro e prosperidade económica.

No contexto da importância da sustentabilidade para as pequenas e médias empresas (PME), o professor catedrático convidado da Nova School of Business and Economics (Nova SBE), Rodrigo Tavares, dissipou várias críticas frequentes à sustentabilidade financeira, garantindo que muitas empresas já integram de forma eficiente os dados financeiros com as preocupações de sustentabilidade.

Tavares enfatizou que existe uma correlação positiva entre a geração de valor financeiro e as práticas sustentáveis, desmistificando assim a ideia de que estes dois objetivos são mutuamente exclusivos. No entanto, reconheceu que muitas empresas portuguesas ainda carecem dos recursos humanos necessários para implementar de forma eficaz e abrangente estas práticas sustentáveis.

O professor concluiu que iniciativas como a SIBS ESG desempenham um papel vital na superação dos desafios enfrentados pelas PME em Portugal no que diz respeito à adoção de práticas sustentáveis. Estas plataformas agregadoras de dados são cruciais para organizar e estruturar o mercado ESG em Portugal, proporcionando às empresas uma base sólida para a implementação e monitorização das suas iniciativas de sustentabilidade.

Conclusão

A conferência de lançamento da plataforma SIBS ESG proporcionou uma visão abrangente dos desafios e oportunidades associados à adoção de práticas ESG pelas empresas portuguesas. Ficou claro que a integração eficaz dos critérios Ambientais, Sociais e de Governança é essencial não apenas para mitigar riscos e cumprir regulamentações, mas também para impulsionar a competitividade e a sustentabilidade a longo prazo dos negócios.

Os diversos intervenientes, desde CEOs a representantes de instituições financeiras e entidades reguladoras, demonstraram um consenso geral sobre a importância crescente da sustentabilidade no cenário empresarial atual. No entanto, também reconheceram os desafios específicos enfrentados por Portugal, como a predominância de PME e as condições climáticas adversas, que exigem abordagens adaptadas e inovadoras.

Neste contexto, a plataforma SIBS ESG destaca-se como uma ferramenta crucial para ajudar as empresas portuguesas a enfrentar esses desafios. Ao fornecer uma estrutura unificada e acessível para o reporte e gestão dos seus desempenhos em sustentabilidade, a plataforma não só simplifica o processo para as empresas, mas também promove a transparência e a consistência na divulgação de informações ESG.

Além disso, a abordagem colaborativa da plataforma, envolvendo diversos stakeholders, desde bancos a instituições públicas e associações, reflete a necessidade de uma resposta coletiva e coordenada para impulsionar a transformação ESG em Portugal. Esta colaboração é essencial para garantir uma transição suave e eficaz para práticas empresariais mais sustentáveis, beneficiando não apenas as empresas, mas também a sociedade e o ambiente.

Em suma, a conferência e a plataforma SIBS ESG representam passos importantes na jornada rumo a uma economia mais verde, inclusiva e resiliente em Portugal. Com um compromisso contínuo com a inovação e a colaboração, as empresas portuguesas estão bem posicionadas para liderar esta transição e colher os benefícios de uma abordagem sustentável para os negócios.